terça-feira, 4 de março de 2014

Paquera no Bar

Ele é um cara comum. Bebe como os outros na balada, se diverte, tem aquele estigma pessoal de ficar no canto para chamar a atenção. Tem o rosto quadrado e perfeito, sendo que eu não consigo parar de reparar. É um trocadilho que faz muito bem para mim: eu reparo, ele me encara. E desde quando eu criei coragem para chegar num cara? Lá vou eu, aos tropeços e surtos clandestinos de calor que agridem minha face, conversar com ele. Coisa que nunca fiz, e dependendo da experiência que tiver, nunca mais volto a fazer. OK. Combinado. Ando a esmo até ele. A princípio, o cheiro embriagante que vem até meu ouvido é delicioso. Depois descubro que, na verdade, ele que é delicioso. 


Tem aquela mistura de homem forte com garoto, uma risada pura e contagiante de adolescente. Ele não tenta me beijar ou agarrar, apesar de ficar me olhando demorado como quem tivesse o desejo de algo mais profundo. Me respeita e eu gosto disso. Agradeço mentalmente por ter usado algumas gotas de meu Carolina Herrera nos minutos antes de sair de casa, junto com minha calça cáqui de sarja e uma camiseta de seda da Alphorria. Merda. Estou arrumada demais para a ocasião. Grito para mim: Burra! Mas depois de algumas bebidas compartilhadas, sinto mais necessidade de entender por que ele fica tão alegre com nossa conversa à toa do que com isso. Olho bem para ele. É um daqueles caras que eu levaria para casa depois de uns porres a mais, para acalmar a birra que terei comigo mesma por ter enchido a cara mais um vez. Talvez eu tirasse a roupa dele devagar, os rasgássemos as nossas em uníssono. Não importa. Estou aqui falando com ele, tentando entender por que um assunto banal pode ser tão divertido, e nos levar à lugares tão desconhecidos e íntimos em questão de segundos. Preciso que ele me especifique esse desejo de contar piadas nada sutis e sem graça. Estranhamente, isso urge em mim o desejo de conhecê-lo ainda melhor, e acredite- isso me parece bom, muito bom. 

Uma beijoca,

Vanessa Preuss 

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