Ele é um cara comum. Bebe como os outros na balada, se
diverte, tem aquele estigma pessoal de ficar no canto para chamar a atenção.
Tem o rosto quadrado e perfeito, sendo que eu não consigo parar de reparar. É
um trocadilho que faz muito bem para mim: eu reparo, ele me encara. E desde
quando eu criei coragem para chegar num cara? Lá vou eu, aos tropeços e surtos
clandestinos de calor que agridem minha face, conversar com ele. Coisa que
nunca fiz, e dependendo da experiência que tiver, nunca mais volto a fazer. OK.
Combinado. Ando a esmo até ele. A princípio, o cheiro embriagante que vem até
meu ouvido é delicioso. Depois descubro que, na verdade, ele que é delicioso.
Tem aquela mistura de
homem forte com garoto, uma risada pura e contagiante de adolescente. Ele não
tenta me beijar ou agarrar, apesar de ficar me olhando demorado como quem
tivesse o desejo de algo mais profundo. Me respeita e eu gosto disso. Agradeço
mentalmente por ter usado algumas gotas de meu Carolina Herrera nos minutos
antes de sair de casa, junto com minha calça cáqui de sarja e uma camiseta de
seda da Alphorria. Merda. Estou arrumada demais para a ocasião. Grito para mim:
Burra! Mas depois de algumas bebidas
compartilhadas, sinto mais necessidade de entender por que ele fica tão alegre
com nossa conversa à toa do que com isso. Olho bem para ele. É um daqueles
caras que eu levaria para casa depois de uns porres a mais, para acalmar a
birra que terei comigo mesma por ter enchido a cara mais um vez. Talvez eu
tirasse a roupa dele devagar, os rasgássemos as nossas em uníssono. Não
importa. Estou aqui falando com ele, tentando entender por que um assunto banal
pode ser tão divertido, e nos levar à lugares tão desconhecidos e íntimos em
questão de segundos. Preciso que ele me especifique esse desejo de contar
piadas nada sutis e sem graça. Estranhamente, isso urge em mim o desejo de
conhecê-lo ainda melhor, e acredite- isso me parece bom, muito bom.
Uma beijoca,
Vanessa Preuss
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