segunda-feira, 24 de março de 2014

QUANDO O AMOR BATE À PORTA


O destino é incerto para ti. Cheio de contratempos, você olha para o relógio e o dia já passou. Não foi ao happy hour, sequer conseguiu falar com sua mãe. A vida anda atribulada, e nem pensar saber o que fazer com o coração. Deixe como está. Ele vai ficar bem assim. E pega sua bolsa a tiracolo para voar pela rua. Sequer dá tempo de olhar para o lado. Você passa pelo mesmo bar de sempre a cinquenta metros de sua casa e não dá bola porque são sempre as mesmas pessoas embriagadas que se encontram lá. E segue seu rumo. Tem muita coisa para fazer em casa. Tem muita coisa para lembrar de fazer em casa. Acontece que tem alguém diferente naquele bar. Alguém em que nunca reparastes, e que vai mexer com teu coração. Mas enquanto tu não sabes, pouco importa. Tem mais que tratar seu passarinho, levar o Spike para passear e colocar roupas na lavanderia para lavar. Tem louça suja na pia, e enquanto lava ela, teu coração ainda está sujo esperando um amor. Amor que está na esquina. Amor que está esperando só a oportunidade chegar. Que te vê todo dia, suspira, mas ainda não tomou coragem de atravancar o caminho daquela garota cega e linda que só pensa em trabalhar. Que tem uma casa sozinha para sustentar. E os pais para visitar, e a mudança precoce de cidade para aceitar. Não é bem assim, e às vezes ela chora olhando a fotografia da família, enquanto o cara a espera do outro lado da esquina. Enquanto a cerveja esfria e o papo vai dissecando. Mas o pensamento ainda está aí. E enquanto você não sabes, ele não deixa de abrir mão dos teus lábios antes que sua boca o tocar. Ele não abrirá mãos dos teus passos, porque sabe que um dia eles hão de se acalmar. Ele não abrirá a mão do teu vestido florido, porque sabes que um dia vai combinar com a flor que te comprou. E não abre mão da esperança, porque quem saiba algum dia você esqueça alguma coisa e precise passar no bar. E aí quem saiba ele possa te amar.
Vanessa Preuss

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