terça-feira, 29 de julho de 2014

CRÔNICA DE UMA VOLTA EM LONDRES

Voltei de Londres. Não foi uma volta assim, digamos, terrível, mas me agarrei à poltrona minutos antes de subirmos. Fechei os olhos, contei até dez e finquei sete das dez unhas na pele. Sobrevivi, dancei dentro de mim, convidei até um tal Christian Grey para a festa. Bati palmas, tomei um Brunt Rosé, sonhei pela milésima vez.


Pedi para a vida não fazer assim tanto sentido. Pedi para ela relaxar, para que eu arrumasse uma ou mais formas de enlouquecer em vida sem precisar acreditar em seres de outros mundos, dragões em mares e bichos-papões debaixo de minha cama depois que voltasse para casa. Calcei minhas galochas para enfrentar a chuva, o frio ou o calor absurdo desses dias sem medo. Decidi pirar sem constrangimentos numa montanha russa, mesmo que ela não fosse a London Eye de meus sonhos. Decidi pular numa corrida na praia e aceitar uma saída para o desconhecido por uma rota qualquer. Aconselhei enlouquecer mesmo sem se ter amor. Sabe que faz bem e é chamado também de raposa? “De raposas como essa, o mundo está cheio”, lembro-me bem de Martha Medeiros sussurrando baixo em meu ouvido.


Confesso que, naquela época, quando estive no alto dos meus dezesseis anos, foi um aprendizado e tanto. Me esforcei um bocado para aprender a fazer meu Fettuccini Al Pesto, e prefiro não compartilhar o resultado. Mas aprendi bastante sobre raposas, seu habitat, alimentação, gostos. Vi Camilinha por aí rebolando com o bichinho estampado na roupa, e acredito que a moda pegou; a raposa deve estar se achando, e Camila- uai!- caindo de amor. Mas, e o que seria de nós sem amor? Gosto de raposas, blogueiras, palavras fofas, conto de fadas contados pelos pais, bichinhos de pelúcias, desafios, merengues que possam ser degustados na boca e uma caminhada sem rumo em Paris. Acredito num mundo melhor sem MC Donalds, sem preconceitos, torturas e rotinas. Troquei o caminho de casa, encontrei velhos amigos, provei sushi e aderi o macaron; sim, é tão gostoso quanto o nome. Aderi à simples massa de espaguete, ao molho shoyo, à realidade de minha vida e à mudança que eu posso escolher tomar (glup!).

Aderi à loucura da escrita, da vida, de confessar em voz alta e clara que amo pai, mãe, irmã, namorado, meu gato, o cachorro da vizinha, o caso de amor da Teresinha, a parede de espelhos da Bruninha, a fofura de Melininha. Confesso também que sei fazer pão, que aprendi a sobreviver em meio à guerra do meu quarto desde que listei os primeiros aprendizados de Bill Gates na primeira página do meu caderno de brochura, quando escrevi mais de mil cartas para meu primeiro amor. Muitos foram jogadas ao vento, mas todas que recebi guardo com cuidado sobre uma fita rosa sedosa. Aprendi sobre o aprender a trabalhar, sobre uma outra forma de amar, e histórias de empreendedor. Também aprendi a jogar xadrez, ler livros em inglês, a sonhar em perambular em qualquer escola incrível norte-americana. Aprendi sobre amores roubados, beijos molhados, livros compartilhados e a primeira vez. Aprendi que nada é mais fácil do que ter um sonho, e daqui a um minuto desistir dele. Aprendi a amar o meu chão, um pouco do alemão, que os anos que foram, não voltam. Mas aprendi que posso aproveitar, me inspirar e criar. Que toda forma de amor é possível, que sonhos são para se realizar e que as mães estão aí para nos orientar. Percebi que tenho medo, mas comprei uma bússola vermelha para me guiar,  toquei na mão do anjo da guarda para me zelar. Até prometi escrever uma cartinha na volta para ele: -Querido Anjo da Guarda, Londres está tão linda quanto ouvimos falar. Se ele sorrir, continuo com minhas historinhas. Caso contrário, volto a Londres novamente para me inspirar.
 

 Beijocas,
Vanessa Preuss

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