Aquele
era para ser o mês dos maus agouros.
Ou pelo menos parecia ser. Da janela do
escritório onde eu trabalhava, via-se crianças correndo e batendo às portas
para venderem rifas para o final do ano na escola com a boca suja e lambuzada, a
correria das empresas para faturarem seus estoques e milhões de liquidações para
a compra do presente de dias dos pais estourados. A maioria dos jovens leitores
de smartphones estavam vidrados, usavam roupas rasgadas, ou bem modeladas, ou
super coladas. De certo ponto da janela, eu também via a ponta da sanfona de algum
campo perdido ao longe, um pouco mais calmo. Onde eu morava, a vida era boa.
Sim, já estávamos pouco interessados nas tevês antigas ou no toca-fitas de
nossos avôs, porque a vida agora podia ser traduzida pelos chamados tablets e
smartphones para todo mundo. Ok, quase todo mundo. Eu nem sabia mexer em um. Na
verdade, nem me importava com isso desde que meu velho computador de mesa não
me abandonasse. Fora algumas tossidas involuntárias, ele vem resistindo bem.
Trabalho
na pequena e única empresa de contabilidade da escassa cidadezinha de Lorena, e
resisto bravamente ao sonho de voar pelo mundo entocada no jatinho particular
de um tio distante. Não posso abandonar minha mãe, e bem na verdade, nem quero.
No fundo, ela tem todas as respostas para as desculpas escassas e esfarrapadas
que venho dando ao velho André até aqui. Não pretendo parar até que Aurora
melhore de alguma forma em sua saúde frágil, e estou com ela em todas as noites
de minha vida até aqui. Meu pensamento era de que nada nunca iria mudar. E isso
era tudo o que eu dizia quando me perguntavam sobre a palavra sonho, porque
para mim ela parecia apenas estúpida e sem sentido. Até o momento em que vi esse garoto de testa
franzida e aconchegada na minha frente de repente. Acho que talvez até o
momento que ele abriu o primeiro sorriso e começou a conversar. Tudo bem, na
verdade era eu quem havia puxado assunto. Boba que sou. Desde que começamos, devem
ter que se passado horas. Devem ter se passado minutos. Pode também ter sido
momentos, leves piscarem de olhos. Até agora, não consegui decifrar. Quando ele
se virou para ir embora, eu nem soube tentar descrever o que senti. Ele está
fugindo? Por que?
Acho que nunca amei ninguém. Digo isso porque não sei nem o
que é essa palavra sem a ajuda de um dicionário. Mas, por que diabos então meu
coração bateu assim? Por que?
Continua..
(e eu adoro esse continua) ;)
Kisses,
Vanessa
Preuss
Nenhum comentário:
Postar um comentário