quarta-feira, 17 de setembro de 2014

TEXTO DE AUTOAMOR


É noite e eu preciso controlar minha fobia de comer os dedos junto com as unhas. Preciso deixar de lado os filmes do Woody Allen e me concentrar em vida, ou esses livros que em nada se parecem com a minha vida real. Preciso pagar minhas contas. Preciso trocar de biquíni, achar uma puta de uma promoção para aquela saia que tanto quero. Preciso falar umas verdades flagelas praquele cara. Sobre amor e seus derivados, tudo aquilo que não aprendi nas aulas de conjugações. Preciso também, falar sobre essas coisas estranhas que circundam minha cabeça e chamam sonhos. Como me encontraram? Onde me levarão? Preciso me recordar urgentemente dos dias em que as revistas adolescentes eram minha única alegria, somada a panelas de pipocas frescas. Talvez eu realmente tenha mudado realmente desde então. Talvez eu tenha me amado um pouco mais. Fato é que deixei de amar aquele cachorro sem vergonha, mas guardei com todo o carinho suas calças surradas junto com minhas ceroulas do Bananas de Pijamas. Confesso para vocês: são um ótimo e santo remédio para aquelas noites vazias de risadas, ou amor.
Não que eu tenha sido vazia de amor. Muito pelo contrário. Sou especialista em distribuir carinho, sorrisos e abraços, mas é claro- e todos nós sabemos- que nem todos os dias são flores. Alguns resultados não são sempre como gostaríamos, as dívidas parecem maiores que os saldos, e as filas de bancos parecem cada vez maiores. Eu preferiria não falar com pessoas frias, melancólicas e confusas. Mas faz parte. Você aprende e cresce com isso. Principalmente a não ser como elas são, a se olhar bem fundo dentro do peito e ver se você não está se tornando o mesmo. Algum dia chega, e você perceberá que ou você sai de sua zona de conforto, ou você se tornará uma pessoa infeliz. A infelicidade tem a ver com a autoestima, mas muito também com o que você está fazendo da vida. Até rimou, olha que lindo. A infelicidade é uma escolha. As quedas são passos. Mesmo que  doam hoje, amanhã te farão levantar. E você terá que caminhar de novo e de novo, consecutivamente, até encontrar uma razão suficiente o bastante para você parar, ou descobrir que a felicidade está ali mesmo, no caminhar.
Um beijo,

Vanessa Preuss

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CRÔNICA DE UMA PAQUERA NA CHUVA


Juro que adoro essas voltas até o ônibus. Lá estou eu, bela e sincera, agarrada à meu guarda-chuva ranzinza, pulando em poças, gravetos, sonhos, ideias fixas e recordações. De repente, aparece um garoto ao meu lado, rindo e conversando como se fôssemos velhos amigos.

Tudo bem, ele já estava antes na minha frente. Com outro garoto a tiracolo, também rindo e falando abobrinhas, e o ignorei. Pudera, eu também travara uma luta contra meu cabelo rebelde, ajeitado num bonito coque que agora escorria junto com a chuva. Apertei os cadernos em meu colo e segurei firme o guarda-chuva. Mais tarde eu teria uma boa de uma conversa com meu cabelo.

- Essa chuva está terrível hein- ele ri para mim.

Me viro surpresa para ele. Oi? Que legal isso! Um garoto que nunca vi, falando de um jeito tão bacana comigo, na volta do estacionamento da escola? (Adoro essas coisas).

-Sim!- respondo sorridente.

Olho para seu rosto. Uau! Ele é lindo!

-Eu tenho um problema com esse meu guarda-chuva em dias assim- ele continua a rir. E eu, comecei uma terrível luta interna para não pregar tanto os olhos nele. Nossa, ele é mesmo belo. Tem umas covinhas tão fofas e.. Pare já com isso, Camila!

Passamos debaixo de uma árvore e seu guarda-chuva prende o galho acima de nós. E fecha. E ele ri. Encolhe-se e tenta abrir o guarda-chuva novamente.

-Viu só?

Estou vendo seu sorriso lindo, penso. Como ele ainda consegue rir? Me inclino para lhe oferecer carona, mas ele é rápido e já está abrindo o seu novamente. E rindo.

-Isso já aconteceu hoje cedo. Na verdade, são gravíssimos problemas com esse rapazinho aqui - ele diz.

Eu estou tendo com esse seu sorriso, penso- de novo- para mim. E sorrio de volta. Gostei dele.

-Isso acontece- tento ser solidária. –Também sou uma desastrada com um tempo assim.

Sou desastrada com tudo, na verdade. E estou odiando já estar chegando no meu ônibus.

-Hoje não era um dia apropriado para se ir na escola. Mas, há muita coisa mais importante que se jogar em casa.

Porque tão lindo, senhor? Por quê?

-Faz parte- tento me recompor, colidindo meu sorriso com o dele. –Até gosto de dias assim. Precisamos deles também.

Nossa conversa está ficando balela, mas encaro um milhão de dias assim se puder usufruir dessas covinhas! Ai, JESUS.

-Meu ônibus é esse- trombo nos meus pés. Choro ao invés de falar, pelo menos para mim.

-Prazer ter te conhecido- ele sorri.

Emudeço. – O prazer foi meu. – Não vá embora! Volte, volteeee! Minha deusa se ajoelha a seus pés.

Me encolho para entrar no ônibus, desolada, e ele segue seu caminho. Mas, peraí. Esse ônibus não é meu!

Agarro minha sombrinha de novo e volto à realidade, enquanto ele continua seu caminho. Provavelmente rindo. Meu ônibus está duas vagas adiante. E meu coração estateado no chão. Burra! Vou correr até ele. Isso! Mas.. O que vou dizer?

Meu inconsciente me encara abobado. -Diga a ele que gostou do seu sorriso.

-E depois?- Pergunto atordoada.

-Depois? Deixa rolar.

Ah, eu já disse que adoro dias de chuva? <3
Ótima chuva para vocês,
Beijos,
Vanessa

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

INDO PARA LONDRES: SEGUNDO TRECHO DO LIVRO "A GAROTA DE GREENWICH"


"No sábado de manhã, Thomas e meu pai me levam até o aeroporto. Tudo que eu preciso coube em uma mala, uma bolsa pequena à tiracolo e outra mala de mão, que contêm o tablet que ganhei de Susan no dia anterior.
Estamos indo até meu destino final em solo brasileiro, e ainda não sei como me despedir. E saber que estou a um passo de fazer isso é entediante. Seguro minhas mãos firme no banco enquanto Thomas corre como um louco pelo asfalto, e tento ali, no pequeno espaço de sossego com minha memória, articular algumas boas palavras de despedida.
O que eu poderia dizer? Estou temendo lágrimas e gargantas presas, mas sei que isso é inevitável. Nenhum de nós falou nada desde que saímos de casa. Droga. Faltam apenas alguns minutos para chegarmos, e ainda não sei por que Thomas anda tão depressa. Talvez pense que assim tenhamos mais tempo para se despedir, embora eu saiba que isso não mudará nada para mim. Já me despedi de Amanda, meus poucos vizinhos, e mais alguns que me ligaram desejando boa sorte. Chorei feito uma condenada. Agora, tenho certeza que não vai ser diferente.
Continuo olhando pela janela hesitante, e enquanto procuro me manter distraída, sei que já entrei em colapso quando uma lágrima começa a cair.

-Você está chorando!
Meu pai olha para mim da forma mais idiota possível ao dizer isso, enquanto eu pego as minhas malas que Thomas me alcança do porta-malas.
Tento imaginar o quanto isso é trágico. Tudo o que eu mais desejava agora se resume em lágrimas imbecis.
-Pois é- digo. –Minha hora chegou.

Abraço o tablet contra meu peito como um consolo enquanto Thomas fecha o porta-malas.
-Se não quiser ir – meu pai me lança um olhar ansioso.

Ah, certo. Era o que me faltava.

-Não, pai. Claro que quero- eu rebato imediatamente. – Só detesto despedidas. Sabe como sou.

-Você lembra que deve nos ligar logo que chegar lá, não é mesmo.
-Sim.

-E todos os dias, para saber como você está.

Um sorriso surge inesperadamente no meu lábio. -Claro que sim, pai.
Isso vai ser caro, mas vou ter outras alternativas para me comunicar.

-Vamos- Thomas me acorda como em todas as outras vezes, e acho que é só para que eu dê-me conta que isso não vai mais acontecer de novo tão cedo. Não terei dois soldadinhos de chumbo me monitorando, e isso será muito bom.
 
Mas nem fui embora e já estou com saudades. Engulo o soluço. Merda. Não vou chorar. Finalmente chegamos ao saguão do Aeroporto Internacional de Porto Alegre, meu último passo em terreno brasileiro. O dia aqui está lindo apesar do frio, e um vento forte cessa assim que damos passagem dentro da porta central. Procuro a passagem em meu bolso enquanto meu pai faz questão de empurrar a mala para mim.

-É, meu voo já vai sair.
Olhamos uns aos outros atônitos sem saber o que dizer. Pela primeira vez, sinto vontade de largar tudo.

-Vou sentir saudades- meu pai me abraça.

-Eu também- engasgo sem jeito.

Ele desgruda de mim com dificuldade, e então olho para Thomas. Acho que vejo uma lágrima querendo escapar de seus olhos, mas não tenho certeza. Nunca o vi chorar. Não pessoalmente.

-Então está- ele me diz.

-É, está- aquilo me faz achar graça, e dou um sorriso grande para ele. - Eu ligo para você também, não se preocupe.
Ele me puxa inesperadamente, me abraça e sussurra no meu cabelo.

-Vou esperar todo dia. Ah, e tem uma coisa que deixei para você dentro da mala.
Encaro-o descrente, até ouvir o primeiro sinal para embarcar. Céus. Está na hora. Meu pai me dá a mala e saio de lá atordoada enquanto escuto a moça do alto falante indicar o voo. Aceno de longe para eles. Estou me distanciando das únicas pessoas que fazem parte da minha vida, e embora seja por uma boa razão, estou em frangalhos.
Aperto a mão firmemente na bolsa e fungo pela milésima vez. É isso, então. Hora de partir. Corro até meu local de embarque segurando meus olhos para não chorar, o que é inevitável."
A aventura está apenas começando..
Gostou?
Você pode adquirir seu exemplar por AQUI, ou ainda entrando em contato comigo pelas redes sociais. Só não deixa de comentar aí embaixo o que achou, ok?
Beijos animados,
Vanessa Preuss
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

TRECHO DO LIVRO: A GAROTA DE GREENWICH


“O sol respinga para dentro do quarto com raios transbordados de cor clara e branca. Puxo o lençol para baixo a fim de levantar, mas quando dou-me conta de que é sábado, fecho os olhos e adormeço mais alguns minutos. Devo ter dormido algumas boas horas, mas o sono parece imenso dentro de mim. Estou cansada intelectualmente. Estou frígida feito um tomate seco. Quando me levanto está fresco, então cubro-me com uma roupa comprida e me arrasto até a cozinha.
Meu pai já se apoderou dos cuidados com a jardinagem, e aproveito que ele não me vê para tomar leite do gargalo e engolir uma fatia com requeijão novo comprado naquela semana. Tomo mais um copo cheio de água, escovo meus dentes com força e volto para arrumar meu quarto. Arranco os lençóis e a fronha do travesseiro para lavar, e embalo meu pouco melhor humor para colocar logo outro. Jogo meus bichos de pelúcia por cima e tiro tudo que há de excesso sobre minha escrivaninha.
[...]Me deito no sofá preguiçosamente, e quando começo a me distrair roendo a unha que lascou na estante, meu telefone toca. Pulo do sofá e atendo no segundo toque. É um número desconhecido.
-Alô?- e coloco o dedo de novo na boca.
-Alô, Roberta?
Meu Deus. Conheço aquela voz. Praticamente grito.
-JACQUES? Como conseguiu meu número?
Oh, Meu Deus. Preciso me dirigir à área para meu pai não ficar aflito com o tom de voz que usei.
-Shhh- ele ri. - Não grite.
Aquele sorriso pelo telefone pode ter um reflexo muito depreciativo em mim. Grudo na parede da área.
-Nada de fazer Shh para mim- retruco. –Por que está me ligando?
E mais: Como conseguiu meu número?
Ele não se altera. Tem a voz muito firme. – Porque te achei divertida, engraçada e linda. E preciso ver se você está bem depois que saiu correndo feito uma louca ontem à noite. Serve?
Eu deveria dizer que sim, pois estou desmaiando de emoção. Ninguém nunca disse isso para mim, e ninguém nunca se preocupou assim comigo. Mas também preciso manter a compostura. E digo:
-Não.
Ele ri de novo. E tem que parar de fazer isso. É muito sensual.
-Como conseguiu meu número?- protesto.
-Isso não é a coisa mais difícil do mundo, Roberta. Se você insiste em não me dar, eu dou um jeito sozinho de conseguir. Por que você fugiu? Por que não me ligou?
Ele estava me bombardeando demais. O que eu ia fazer ligando para ele?
-Não temos nada para conversar, já disse.
-Ah. Temos sim.
O tom ameaçador com que diz isso me inebria. Jacques é lindo, educado e malévolo ao mesmo tempo. Não sei como alguém pode ser normal sendo assim.
-Jacques- tento me controlar, mas está difícil. – Por favor, não faça isso. Realmente que não somos compatíveis. Não percebeu isso ontem?
Nunca fomos.
-Compatíveis?- ele ri como se eu tivesse falado alguma coisa muito absurda. Mordo os dentes de raiva. – Não precisamos ser compatíveis, Roberta. Só quero que aceite conversar comigo, uma vez sem fugir. Eu não vou te morder.
Fico rubra de novo. Jacques me morder? E me lembro que já tivemos essa assunto.
-Já não estamos conversando?- disparo, lembrando-me de nossa primeira vez no refeitório.
-Estamos. Por telefone. E isso não vale. Tem que ser cara a cara. Por que está fugindo?
Não estou fugindo, só vendo a obviedade, grito para mim ao invés de para ele.
-Não quero nada com você, Jacques. Ainda não percebeu?
-Tenho uma surpresa para você.
O quê? – Não quero surpresas. Já disse que não temos nada a ver, e se ainda não entende, não gostei de você!- minto e grito, e essa é a última coisa que digo antes de desligar.
Que merda! Volto para a sala e atiro o telefone com raiva no sofá. Jacques realmente tem o dom de estragar o dia de uma pessoa. Estou furiosa, e rasgo a unha sem pensar. Quando estou me culpando pelo que fiz ela já está sangrando, e corro para o banheiro para limpar minha dor. Passo a chave na porta e aproveito para lavar meu rosto de novo. Não, por favor, repito para mim. Diga que isso não aconteceu.”
 
O que acharam?  Curiosos para mais?
 
Beijos,
Vanessa Preuss